quinta-feira, 1 de abril de 2010

Á data da morte do rei D. Frenando

À data da morte do rei D. Fernando I, sem herdeiros directos, Portugal parecia em risco de perder a independência. A rainha D. Leonor Teles de Menezes era impopular e olhada com desconfiança. Ter tornado pública a sua ligação amorosa ao nobre galego João Fernandes Andeiro, que vivia no paço, atraiu todas as críticas contra a sua pessoa e contra o conde Andeiro. Para além do mais, a sucessão do trono recaía sobre a princesa D. Beatriz, casada com o rei João I de Castela.
No entanto, a burguesia e parte da nobreza juntaram-se à voz popular que clamava contra a perda da independência, tão duramente mantida por D. Fernando I. Dois pretendentes apareceram para competir com D. Beatriz pela coroa portuguesa:
• D. João, príncipe de Portugal, filho de D. Pedro I e D. Inês de Castro, era visto por muitos como o legítimo herdeiro, dado o suposto casamento dos seus pais, e
• D. João, filho de D. Pedro I e de Teresa Lourenço, que veio a tornar-se rei.


Morte do Conde Andeiro (Museu Nac. Soares dos Reis, Porto)
Com o apoio de um grupo de nobres, entre os quais Álvaro Pais e o jovem D. Nuno Álvares Pereira, e incentivado pelo descontentamento geral, o Mestre de Avis assassinou o conde de Andeiro no paço, a 6 de Dezembro de 1383 e iniciou o processo de obtenção da regência em nome do Infante D. João. Com este último, aprisionado por D. João I de Castela, abria-se a possibilidade política de o Mestre de Aviz ser rei.
Como seria de esperar, D. João I de Castela não desistiu da sua pretensão e preparou-se para lutar pelos direitos da sua consorte à coroa portuguesa. Seguiu-se a Crise de 1383-1385, ou Interregno, um período de anarquia e instabilidade política onde diferentes cidades de Portugal se declaravam por D. Leonor Teles (até esta abdicar da regência para a filha), por D. Beatriz ou pelo Mestre de Aviz.
A guerra civil arrastou-se por mais de um ano. D. Nuno Álvares Pereira, posteriormente condestável de Portugal, revelou-se um general de grande valor, ao contrário do próprio pretendente ao trono. Fernão Lopes é um crítico feroz das acções militares do Mestre, que teria tendência a preferir engenhos e planos complicados, sem resultados, ao contrário da luta valente e cavaleiresca, e das vitórias cruciais de D. Nuno, particularmente no Alentejo e na ajuda a Lisboa, onde o Mestre ficou sitiado sem se ter abastecido das provisões necessárias para aguentar um cerco.

Reinado
Finalmente a 6 de Abril de 1385, as Cortes portuguesas reunidas em Coimbra declaram o Grão-Mestre de Aviz, D. João I, rei de Portugal. Esta tomada de posição resultava na prática como uma declaração de guerra a Castela, visto que atacava o estatuto de D. Beatriz de Portugal como herdeira.
Pouco depois, João I de Castela invade Portugal com o objectivo de tomar Lisboa e remover D. João I de Portugal do trono. Com Castela, seguia um contingente de cavalaria francesa, aliada de Castela para se opôr aos ingleses, que tomaram o partido de D. João I (Guerra dos Cem Anos). Como resposta, D. João I nomeia D. Nuno Álvares Pereira Condestável de Portugal protector do reino.


O génio militar de D. Nuno Álvares Pereira foi decisivo na Batalha de Aljubarrota
A invasão castelhana foi repelida durante o Verão, depois da decisiva batalha de Aljubarrota, travada a 14 de Agosto, perto de Alcobaça, onde o exército castelhano foi quase totalmente aniquilado. Castela, então, retira-se e a estabilidade da coroa de D. João I fica permanentemente estabelecida.
Em 1387, D. João I casa com D. Filipa de Lencastre, filha de João de Gaunt, Duque de Lencastre, fortalecendo por laços familiares os acordos do Tratado de Aliança Luso-Britânica, que perdura até hoje. Depois da morte em 1390 de João de Castela, sem herdeiros de D. Beatriz, a ameaça castelhana ao trono de Portugal estava definitivamente posta de parte. A partir de então, D. João I dedicou-se ao desenvolvimento económico e social do país, sem se envolver em mais disputas com a vizinha Castela ou a nível internacional. A excepção foi a conquista de Ceuta, no Norte de África, em 1415, uma praça de importância estratégica no controle da navegação na costa de África que é conquistada a 21 de Agosto. Após a sua conquista são armados cavaleiros, na mesquita daquela cidade, os príncipes D. Duarte, D. Pedro e D. Henrique. Entretanto, na véspera da partida de Lisboa, falecera a rainha D.Filipa de Lencastre.




O Reino de Portugal, fundado na primeira metade do século XII, não foi apenas contemporâneo das Cruzadas do Oriente, mas conduziu a sua própria guerra de cruzada contra os Mouros - a chamada Reconquista cristã. Nesse contexto, nasceram na Península Ibérica ordens religiosas autónomas, de carácter supranacional, destinadas a expulsar os muçulmanos do território - paralelamente às ordens nascidas na Terra Santa, como os Templários ou os Hospitaleiro.
Entre as ordens de carácter ibérico, destacam-se a Ordem de Santiago, a Ordem de Alcântara e a Ordem de Calatrava. Esta última, fundada em 1158 com o auxílio do rei Sancho III de Castela, foi logo confirmada por bula papal, adoptando a regra de São Bento e a Constituição da Ordem de Cister. Da Ordem de Calatrava viria a nascer, como braço autónomo no reino de Portugal, a futura Ordem de São Bento de Avis.
Por seguirem a regra beneditina, daí advém a origem do hábito das ordens de Calatrava e Avis - branco, com uma cruz flordelisada (vermelha, no caso da Ordem de Calatrava, e verde, na de Avis). De igual modo, o estabelecimento dessa regra impedia os seus membros de se casarem (ao contrário de outras ordens religiosas militares, cujos membros eram leigos). Contudo, o concubinato era bastante comum, o que levou a que o Papa Alexandre VI (em 1402) tolerasse o casamento, como forma de prevenir eventuais concubinagens e desregramentos da vida conventual.
Afonso I de Portugal, viria a ocupar Évora cerca de 1165, e cerca de 1175 doaria bens na cidade, intramuros, aos frades de Calatrava instalados em Portugal - donde o primeiro nome dessa milícia em solo lusitano: os freires de Santa Maria de Évora ou milícia de Santa Maria de Évora - afim de a povoarem, desenvolverem e organizarem.
Inclusivamente, o nosso primeiro rei viria a conceder a um seu filho ilegítimo, Pedro Afonso, o cargo de primeiro mestre dessa ordem em solo português.
Embora os Freires de Évora mantivessem a obediência que deviam ao seu prior em Castela, cedo porém ganhou foros de «ordem nacional», sobretudo a partir do momento em que se deslocam para o lugar de Avis, que lhes fora doado em 1211 pelo rei Afonso II.
Por volta de 1363, o rei Pedro I de Portugal entrega o mestrado da ordem ao seu bastardo João, filho do relacionamento com uma dama galega de nome Teresa Lourenço. Seria este mesmo João que, após a morte de Fernando, viria a congregar inúmeros apoios na luta contra Beatriz de Portugal, a legítima herdeira do trono, vencer o rei castelhano João I em Aljubarrota e a ser declarado rei pelas Cortes de Coimbra de 1385.
A ascensão de D. João, Mestre de Avis, ao trono de Portugal, ditou, por um lado, a integração do mestrado dessa ordem na Coroa de Portugal (sendo nomeados ou membros da família real, ou nobres da inteira confiança do monarca, como foi o caso do primeiro grão-mestre após D. João, Fernando Rodrigues de Sequeira), e por outro, um maior afastamento face à Ordem de Calatrava; após 1385, os cavaleiros da Ordem recusaram-se a reconhecer o grão-mestre castelhano, Gonçalo de Guzmán, como seu superior. Isto conduziu inclusivamente a problemas junto do Papado (a que se juntava o posicionamento de ambas as coroas durante o Grande Cisma do Ocidente, com João I de Portugal a apoiar o Papa de Roma, e João I de Castela, o cismático de Avinhão), apenas resolvidos definitivamente com o concílio de Basileia-Ferrara-Florença (1431).
Por outro lado, a subida ao trono de um mestre de Avis levou a que lhe fosse concedida dispensa canónica para celebrar casamento, já que, ao abrigo da regra beneditina que a Ordem de Avis seguia, os membros da dita ordem professavam voto de castidade.
Com a subida ao trono de João I de Portugal reacende-se a chama da guerra de cruzada, há muito perdida em Portugal; as conquistas no Magrebe conduzem as ordens religiosas a novas paragens. Assim, os cavaleiros de Avis (bem como os de Cristo, a outra ordem nacional portuguesa) estarão presentes na conquista de Ceuta (1415), bem como no falhado ataque a Tânger (1437), no qual ficou detido (e acabou por morrer em cativeiro com fama de santidade) o infante D. Fernando, o qual era então mestre da Ordem desde 1434. Por sua morte, em Fez, em 1443, passou o mestrado para as mãos do filho mais velho do regente Pedro, Duque de Coimbra, também chamado Pedro (o qual viria a ser, por breve período, rei de Aragão).
A ordem foi depois herdada pelo príncipe D. João (futuro João II de Portugal), pelo seu filho ilegítimo Jorge de Lencastre, e, por morte deste, em 1551 (reinado de João III de Portugal), o grão-mestrado da Ordem de Avis foi incorporado perpetuamente à Coroa, perdendo todo o seu carácter religioso. Nesse mesmo ano, o Papa Júlio III viria permitir que os seus membros pudessem dispor livremente dos seus bens (contrariando também o voto de pobreza feito pelos seus membros). Por esta altura, o único critério que passou a ser necessário para a admissão na Ordem era a pertença ao Estado da Nobreza, o que foi confirmado por um decreto de 1604.
Em 1 de Agosto de 1789, a rainha Maria I de Portugal, com o auxílio do Papa Pio VI, tentou reformar a ordem de Avis, mas acabou apenas por secularizá-las - as três ordens - (Avis, Santiago e de Cristo), embora tivesse mantido o grão-mestrado integrado ainda à Coroa. Desta secularização radicou o nascimento da Banda das Três Ordens (uma faixa tripartida de púrpura, vermelho e verde, representando respectivamente as Ordens de Santiago, Cristo e Avis), com a qual foram desde então agraciados os chefes de Estado portugueses (reis ou presidentes) quando da sua subida ao poder, como símbolo da magistratura que exercem.
A ordem foi também levada para o Brasil, pelo príncipe regente D. João e, em 1834, o regente D. Pedro, Duque de Bragança, em nome da jovem rainha Maria II, aboliu completamente a ordem. Esta, contudo, viria a ser restaurada em 1894, durante o governo de Hintze Ribeiro, com o carácter de ordem honorífica que ainda hoje mantém, destinando-se a condecorar personalidades militares que tivessem obrado papel de relevo.

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